Dá pra imaginar como se sentem os executivos dos grandes estúdios hollywoodianos quando, depois de torrarem bilhões de dólares anuais com repetitivas variações da mesma fórmula, vêem surgir um filme como a produção sul-africana Distrito 9.
Com um roteiro inteligente e original, verba suficiente para convincentes efeitos especiais e um diretor talentoso com liberdade para fazer o filme da maneira que acha melhor, o resultado não poderia ser outro: Distrito 9 é sensacional, um sopro de criatividade e renovação no combalido filão de filmes de ação.
Quando pensamos que os americanos gastaram 200 milhões de dólares para insistir em mais um Exterminador do Futuro e morreram num prejuízo grande, constatamos como uma boa idéia não tem preço. Bastaram o equivalente a US$ 30 milhões para que Distrito 9 pudesse ser realizado e arrecadasse quatro vezes mais apenas nos Estados Unidos.
Peter Jackson, diretor de O Senhor dos Anéis, acreditou no trabalho do sul-africano Neill Blomkamp e resolveu produzir o filme.
A apresentação daquele panorama é feita no formato de um docudrama, relatando, através de depoimentos para um suposto documentário, a situação dos principais envolvidos no trágico episódio da tentativa de remoção. Uma vez que o espectador já está situado, a ação passa a transcorrer cronologicamente, num ritmo tão intenso e envolvente que não é difícil perceber que estamos diante de um novo talento da direção.
O impacto não seria o mesmo se Blomkamp (que também é co-autor do roteiro) não mostrasse que, além da destreza técnica, também tem algo a dizer. E não se trata de um discurso velho e confortável contra o apartheid. A crítica social levantada pelo filme é atualíssima, corajosa e bastante verossímil.
A concepção dos alienígenas é outro destaque do filme (são chamados pejorativamente de “camarões” pelos opressores) e não parece querer despertar no espectador sentimentos quaisquer, seja de asco, raiva ou compaixão. Eles se comunicam numa língua própria e a identificação emocional se dá apenas pela caracterização psicológica e mais próxima do que conhecemos como humanizada do alien Christopher Johnson e seu filho.
Alguns personagens esbarram na caricatura e certos detalhes são inverossímeis, mas nada que atrapalhe o conjunto final de um dos poucos filmes recentes que nos fazem sair do cinema com a sensação de termos visto surgir um novo talento. Neill Blomkamp: vale a pena guardar esse nome antes que ele seja abduzido como um alienígena pelos magnatas de Hollywood.