O filosofo alemão Georg Hegel escreveu que o
encontro de duas ideias (tese + antítese) leva a formulação de outra mais
elaborada (síntese). Sempre gostei desta teoria filosófica, pois ela nada mais
é do que uma teoria historicista. Afinal, se pensarmos pelo viés histórico, foi
desta forma que a humanidade evoluiu. O que eu não tinha imaginado, até agora
pelo menos, era sua aplicação prática e clara no cinema. Disse bem, não tinha,
já que é exatamente isto que o cineasta francês Luc Besson fez em seu último filme,
Lucy,
com lançamento nesta quinta-feira, dia 28 de agosto.
Ao contar a história de uma jovem americana,
Lucy (Scarlett Johansson), que capturada pela máfia chinesa se vê obrigada a
servir de “mula” para uma nova droga sintética, o diretor mistura elementos de
alguns de seus trabalhos anteriores. É impossível classificar este
longa-metragem em um único gênero. Ele é policial, drama, ação e ficção
cientifica simultaneamente. Ele é um pipocão de qualidade que agradará ao
público que busca, exclusivamente, entretenimento de primeira. E ele é, também,
uma reflexão consciente sobre o homem e os seus limites.
Quem quer perseguição de carros pelas ruas de
Paris, como em "Taxi"(1998) e suas sequências, encontrará. Para quem gosta de
filmes de tirar o fôlego e balas disparadas a esmo, como "Nikita" (1990) ou na
duologia "Busca Implacável' (de 2008 e 2012, onde ele ataca somente de roteirista
e produtor), estes características também estão presentes. Já para os fãs de "O
Quinto Elemento" (1997), a melhor obra de Besson em relação aos efeitos visuais
até aqui, "Lucy" é um fantástico tributo. Há ainda links visíveis com o trabalho mais recente do
diretor, "A Família" (2013), e algumas de suas películas tidas como cults.
Esta mistura inusitada
poderia ter descambado em uma salada russa de sabor ocre, mas não foi isto que
aconteceu. Magistralmente, o cineasta conseguiu fugir do pastiche ao arquitetar
uma trama que se não é crível (afinal, desde quando alguém se tornaria um
super-homem, usando muito mais de 10% do cérebro, graças a tal droga
sintética?), é desculpável devido ao seu viés científico e prende o espectador
na cadeira do início ao fim.
Vários são os fatores que
mantém o público atado ao assento e despertam um encantamento quase que
hipnótico. O primeiro deles é a fotografia deslumbrante que combina cenas de
ação e imagens que mais parecem saídas de um documentário. Inicialmente parecem
deslocadas, mas não estão. Já a montagem afiada, ágil, é fundamental para o
ritmo do filme. Por último, a atuação magnética da protagonista Scarlett
Johansson, uma espécie de versão feminina 2014 de Matthew McConaughey. Tudo o
que ela toca vira ouro reluzente: "Ela", "Sob a Pele" e por aí vai.
Se nos anos 70 a geração de
cineastas americanos intitulada “Nova Hollywood” se inspirou na francesa
“Nouvelle Vague” para criar uma nova forma de fazer cinema, a partir dos anos
80, Luc Besson se tornou o mais americano dos realizadores franceses sem, no
entanto, jamais se esquecer de suas raízes. Por isto que seus filmes, muitas
vezes, são espetáculos repletos de conteúdo. Este é o caso de Lucy.
Desliguem os celulares e boa
diversão.
BEM NA FITA: A
inusitada combinação de diversos gêneros em um só. A fotografia deslumbrante
casada com a montagem afiada, ágil e a magnética presença de Scarlett
Johansson.
QUEIMOU O FILME:
Nada.
Por: Bruno Giacobbo
Crítica publicada no Blah Cultural
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