Escrito por Antoine
de Saint-Exupéry, “O Pequeno Príncipe” é um clássico da literatura mundial que
mesmo sendo denominado como infantil perpassa o gênero e cativa intensamente a
quem lê. Não é por menos que o livro se tornou uma fonte inesgotável de
inspiração tanto pelas aquarelas do próprio autor quanto pelo seu conteúdo,
temática e forma lírica o qual aborda. O cineasta de animação Hayao Miyazaki é
um deles, o criador do estúdio Ghibli responsável por obras primas como “Meu
Amigo Totoro” e “A Viagem de Chiriro”, tem até hoje “O Pequeno Príncipe” como
seu livro favorito e de cabeceira o qual o inspirou sucessivamente em suas
obras.
Como qualquer obra
de sucesso, “O Pequeno Príncipe” não se prendeu apenas a literatura e logo se
tornou um filme musical em 1974 e algumas séries de animações. Nenhum dos
citados possuía verdadeiramente a essência e o carisma do original.
Em 2008 após exibir
seu elogiado “Kung Fu Panda” no Festival de Cannes, Mark Osborne recebeu um
convite para realizar uma adaptação do livro de Exupéry para o cinema. Osborne
logo recusou por achar impossível adaptar o livro, apaixonado e com uma relação
própria com o mesmo, já que conheceu através de sua namorada, quando teve que
se ausentar e morar do outro lado do país para estudar animação e se comunicava
com ela através de cartas, e nelas sua então namorada citava frases de “O
Pequeno Príncipe” e um dia enviou seu exemplar pessoal para ele. Anos depois já
casados e com filhos, ele leu o mesmo exemplar para eles.
Mesmo tendo recusada
a tal proposta, Osborne não sossegou e ficou imaginando quantas pessoas tinham
sido tocadas e transformadas pela obra de Exupéry. Foi então, que vendo sua
filha teve a idéia de criar um filme aonde uma menina, uma jovem adulta, que
não tem a possibilidade de ser criança se depara com a história do pequeno
príncipe através de seu vizinho, um ex piloto idoso que não perdeu a essência
infantil.
Osborne encontrou
essa forma então de proteger o conteúdo original e ao mesmo tempo mostrar o
quão ele foi tão inspirador. Para traduzir essas duas histórias ele decidiu
usar de tecnologias diferentes. Quando conta a história da menina, ele usa a
animação 3D com modelagens bem referenciais a dos estúdio Pixar em um mundo
cinza, geométrico, perfeccionista, contrastado pelas cores da casa do aviador.
Já quando conta a história do livro, ele traz com muita sensibilidade a
animação em stop motion com personagens criados em papel marche. O mundo criado
para a adaptação do livro é onírica e muito bela.
Dessa forma a
narrativa se divide em contar essas duas tramas, mas acaba tendo muito menos
espaço para a obra do Pequeno Príncipe, mas não incomoda por ser abordada de
forma orgânica para a narrativa e assim o filme vai se construindo de forma
quase irretocável e perfeita até que decide continuar a história do livro,
mostrando o que aconteceu depois. É nesse momento que o filme perde um pouco a
força e produz uma “barriga” narrativa.
Nesse ato Osborne
tenta investir um pouco na aventura e sequências de ação e perseguição para
atrair esse jovem público faminto por agilidade e acontecimentos mil. O
problema desse terceiro ato é que além de controversamente seguir a história do
livro que já estaria encerrada, é de que se torna redundante em suas mensagens
e as frases de efeito do próprio livro são amplamente
repetidas o que se torna cansativo e um pouco exagerado.
Mesmo com tais
problemas no ato, foi conseguido amarrar toda a trama e trazer um final satisfatório,
mas que poderia ser um pouco mais ousado em um belo filme que trata sobre não
deixar seu lado infantil ir embora quando se torna adulto e também aborda sobre
a perda e a morte de forma sútil e elegante.
O Objetivo de Mark
Osborne foi alcançado com êxito em mostrar o quão essa história é relevante
para a vida e traduziu a fábula do Pequeno Príncipe de forma espetacular com a
melhor adaptação da obra até o momento.
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