Alguns diriam
que o grande Prêmio Cesar de Cinema (equivalente ao Oscar Francês) teria
perdido o juízo também. Totalmente contracorrente, premiou em 2014 como melhor
filme a paródia irônica da própria vida do também eleito melhor ator (além de
ter dirigido e roteirizado), Guillaume
Gallienne, por "Eu Mamãe e os garotos",
e como melhor atriz Sandrine Kiberlain pela protagonista do filme que iniciou
esta crítica. Os mais empertigados e existencialistas da Europa se renderam ao
escapismo? Não sem uma boa dose de nonsense e apuro estético.
É engraçado contrapor os 2 títulos acima, pois
ambos são divertidas sátiras aos costumes elitistas franceses sobre família. No
humor negro e politicamente incorreto de "Uma
Juíza sem Juízo", a personagem sacrificou sua vida social por retidão moral
e legal por trás da toga na profissão, mas só com a bebedeira de uma festa de
fim de ano é que descobre, meses depois, estar grávida e sem saber quem foi o
pai! Sua vida vira de ponta-cabeça, assim como os processos que estava
julgando. Até que um deles pode estar no epicentro de toda sua revolução de
vida! Eis que surge a persona irreverente do próprio diretor como coadjuvante, Albert Dupontel, interpretando o
acusado de crime hediondo que ele alega não haver cometido! Ele salva a vida
dela (melhor não explicar mais nada para evitar spoilers!) e ela se sente em
débito para ajudar em sua investigação.
O que acontece no fim das contas é um filme
ligeiramente perdido em sua proposta inicial, sem necessariamente uma
relevância existencialista a se esperar dos franceses, mas que é
significativamente auxiliado pela indiscutível interpretação contida e ao mesmo
tempo inversamente libertina de Kiberlain,
que engole facilmente o roteiro com sua vasta experiência como com comédias à
la "O Pequeno Nicolau" e "As Mulheres do 6º
Andar" e dramas como "Chambon e Políssia". No demais, a entrada de Albert Dupontel, apesar de eficiente no papel, desfoca um pouco o
domínio de Kiberlain, abrindo abas
quase para outro filme inteiramente diferente dentro do filme – em parte bom
para quebrar o gênero dramédia romântica e quase inserir um pouco policial...,
mas em outra parte não tão bom, pois ele é a parte mais fanfarrona do filme,
mais caricatural! – E, como diretor, Dupontel usa toda influência de
conterrâneos que apreciam experimentações com cores fortes, como o próprio
filme de Guillaume, "Eu Mamãe e os
Meninos", e, diga-se de passagem, a comédia norteadora de toda uma geração
maluque-te beleza: "O Fabuloso Destino de
Amélie Poulain".
Por Fillipo Pitanga
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