Cada vez que
um remake com qualidade inferior a do filme original é lançado, o debate entre
fãs e críticos esquenta: Qual é real motivação para se filmar um repeteco?
Ganância, já que a repetição de um sucesso do passado, algumas vezes, é
garantia de boas bilheterias? Ou uma absoluta falta de novas idéias? O primeiro
motivo é muito mais plausível do que o segundo. No entanto, o que falar quando
a refilmagem é de um bom trabalho, mas que não fez tanto sucesso assim? Este é
o caso de "Elsa & Fred", de Michael Radford, a versão americana de uma película
argentina homônima.
Na pele dos
protagonistas, a diva da terceira idade, Shirley MacLaine, e o eterno capitão Georg
Von Trapp, do clássico “A Noviça Rebelde” (1965), Christopher Plummer, vivem um
romance no ocaso da vida. Seus caminhos se cruzam quando ele, viúvo a
pouquíssimo tempo, se muda para o edifício dela. Separados por apenas uma
porta, eles possuem personalidades bastante distintas, mas igualmente
solitárias. Ela, com sede de vida. Ele, recluso por opção. Contudo, como convém
em qualquer história de amor tradicional, aos poucos, vão se entendendo.
A primeira
coisa que deve ser dita sobre esta refilmagem é que ela é praticamente idêntica
ao longa-metragem original. Há pouquíssimas diferenças que farão o público
gostar mais de um ou de outro. A grande diferença (e problema) do novo filme
está no seu desenvolvimento. Caso tenha a chance de assistir as duas obras, o
expectador verá que a trama americana é muito mais corrida. Este problema se
explica pela concepção do personagem principal. Diferentemente do primeiro Fred,
o de Plummer não é apenas um homem que ainda não se acostumou com a viuvez. Ele
possui uma amargura acentuada que torna a transformação de sua personalidade
pouco crível em tempo tão curto, 94 minutos. Além disto, as passagens temporais
que poderiam contribuir para a assimilação desta mudança são mal sinalizadas.
Apesar deste
senão em relação ao seu personagem, o Plummer está bem em cena. Talvez com
certo exagero de caras e bocas, ele encarna com naturalidade o papel que lhe
foi dado. Se isto atrapalha o andamento da película, aí não é um problema dele.
MacLaine também se destaca. É visível a química do casal, aliás, dá para dizer
que eles carregam nas costas um filme que tinha tudo para ser muito mais
encantador, afinal, o único momento em estampamos no canto da boca aquele
sorriso característico de obras deste gênero, é quando presta-se uma homenagem
ao clássico “A Doce Vida” (1960), de Fellini, ‘cult movie’ da protagonista.
Considerado
pela “Veja” um dos dez melhores filmes de 2005, o longa-metragem argentino não
fez uma bilheteria exorbitante mundo afora, não arrebatou fãs apaixonados nos
quatro cantos do planeta ou qualquer outra coisa que justificasse um remake. Da
mesma forma, este novo "Elsa & Fred" pode
ser classificado apenas como bom. Um filme para ser visto acompanhado, em um
final de tarde de domingo, mas que dificilmente permanecerá nas lembranças dos
cinéfilos mais exigentes.
Desliguem os celulares e boa
diversão.
BEM NA FITA: O casal de protagonistas. A
homenagem ao clássico “A Doce Vida”, de Federico Fellini.
QUEIMOU O FILME: O desenvolvimento do filme,
bastante corrido, tornando pouco crível a transformação do personagem
principal. História sem encanto ou brilho, nada que justificasse um
remake.
Crítica também publicada no Blah Cultural
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