Mesmo em
pleno século 21 a maior força da natureza é um grande tabu. Mascarado como uma
era de amor livre e igualdade de gêneros o sexo é sim um motivo de discussões,
preconceitos e choques.
Foi enraizado
na sociedade uma distopia sexual em que tudo que fuja da relação para
procriação seja algo contestável. Ainda é bastante comedido o discurso do sexo
pelo bel prazer, e muito menos estabelecido como força transgressora e
transformadora, afinal o sexo pode possuir diversos significados entre: o
estabelecimento de um jogo de poder, um vício, uma autodescoberta , uma
descoberta com relação ao outro e ao mundo. O sexo afinal tem poderes mais
fortes que uma droga química aonde é incapaz de uma simples desintoxicação,
marcando pelo contato da pele, do órgão e da irrefutável lembrança. Não por
menos diversos transtornos psicológicos e psiquiátricos tem sempre um viés de
estudo da sexualidade. O sexo tem a capacidade do ápice da felicidade em um
orgasmo e ao mesmo tempo um linha tênue da auto destruição.
O novo e
polêmico filme do diretor Gaspar Noé, conhecido por sempre tirar a plateia da
zona de conforto em querer usar o choque e o asco de algo que existe, mas a
sociedade deseja se cegar, é a prova máxima disso.
Se o sexo
sempre foi um elemento vital nas obras de Noé como em “Irreversível” , agora
com “Love” ele vira o tema e instrumento da tentativa de uma jornada sensorial
de relacionamentos amorosos. O próprio protagonista que se trata de um cineasta
frustrado diz querer fazer um filme com sexo, suor e lágrimas, já que esse
seria o resumo da vida. Noé tenta então utilizar o recurso do sexo explícito
para função imersiva de identificação das personagens, o que de todo é uma boa
proposta se não se esgotasse em toda a obra e virasse um artificio apenas de choque.
O filme
mostra a história de um homem que resgata o passado quando sabe do sumiço de
sua ex namorada que foi sua grande paixão até engravidar uma outra mulher que
participava de relações a três com o casal.
Noé tenta se
aproximar de algo que Kubrick fez com maestria no subestimado “De olhos bem
fechados”, aonde um personagem se depara com uma jornada sexual e incestuosa sem
volta. Noé mostra a mutação do adentrar nas possibilidades sexuais, mas mais do
que isso, o longa é sobre escolhas.
Boas
tentativas cercam o filme, principalmente o fato de demonstrar que o amor e o
sexo estão extremamente ligados, e não em relações sexuais pragmáticas ,e sim
de vísceras, aonde sentimento pulsa tanto como um membro enrijecido. Não há
divergências, o amor liberta a selvageria nesse caso.
Se de um lado
a proposta do filme é mostrar como as memorias afetam aquele personagem, o
ritmo uniforme não deixa a obra avançar. Nem quando em certo momento o
personagem toma ópio para tentar ficar mais próximo daquela mulher e lembranças,
o filme cresce. Não há ousadia na edição e nem mesmo por parte do diretor que
revela o sexo da mesma forma de uma pornografia barata com planos estáticos e
abertos. Noé parece não saber utilizar a linguagem cinematográfica em seu prol
de intensificar as relações. Talvez a maior fragmentação de planos e oscilação
de ritmos pudessem compor um certa elegância a composição das cenas. Não porque
o sexo por sí só seja feio e sujo, e sim para intensificar e incorporar a
pretensiosa proposta de Noé. Com mesma pretensão que está estabelecida nos
diálogos, ou até o narcisismo do diretor de não só colocar sua marca autoral,
como a sí, já que o filho do
protagonista se chama Gaspar, e o amante de sua ex se chama
Noé. Não é preciso muita expertise para comprovar tal necessidade de se mostrar
que o diretor tem, já aparecendo nu em cena no longa “Irreversível”.
O filme se
alonga por demais com momentos e cenas desnecessárias que não concluem nada e o
fraquíssimo elenco não é capaz de dar força e peso para o drama, parecendo que
tudo fica em cargo das cenas de sexo explicito em 3D que não são propriamente
ditas tão absurdas para uma plateia convencional, mas que pretendem ferir com o
filme já iniciando em uma cena que realça os órgãos sexuais de um meio torpe de
notificar ao espectador ao que ele verá em seguida pelas próximas quase 2 horas
e meia.
Mesmo assim
não se pode dizer que “Love” seja um fiasco e apenas um pornô com alguma
história. É um filme sobre algo muito mais se você conseguir enxergar através
de todos sons e fúrias que o diretor resolve incessantemente te jogar . Um bom
filme escondido pelas pretensões e narcisismos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário