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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

LOVE POR BRUNO DE SOUZA


Mesmo em pleno século 21 a maior força da natureza é um grande tabu. Mascarado como uma era de amor livre e igualdade de gêneros o sexo é sim um motivo de discussões, preconceitos e choques.

Foi enraizado na sociedade uma distopia sexual em que tudo que fuja da relação para procriação seja algo contestável. Ainda é bastante comedido o discurso do sexo pelo bel prazer, e muito menos estabelecido como força transgressora e transformadora, afinal o sexo pode possuir diversos significados entre: o estabelecimento de um jogo de poder, um vício, uma autodescoberta , uma descoberta com relação ao outro e ao mundo. O sexo afinal tem poderes mais fortes que uma droga química aonde é incapaz de uma simples desintoxicação, marcando pelo contato da pele, do órgão e da irrefutável lembrança. Não por menos diversos transtornos psicológicos e psiquiátricos tem sempre um viés de estudo da sexualidade. O sexo tem a capacidade do ápice da felicidade em um orgasmo e ao mesmo tempo um linha tênue da auto destruição.

O novo e polêmico filme do diretor Gaspar Noé, conhecido por sempre tirar a plateia da zona de conforto em querer usar o choque e o asco de algo que existe, mas a sociedade deseja se cegar, é a prova máxima disso.

Se o sexo sempre foi um elemento vital nas obras de Noé como em “Irreversível” , agora com “Love” ele vira o tema e instrumento da tentativa de uma jornada sensorial de relacionamentos amorosos. O próprio protagonista que se trata de um cineasta frustrado diz querer fazer um filme com sexo, suor e lágrimas, já que esse seria o resumo da vida. Noé tenta então utilizar o recurso do sexo explícito para função imersiva de identificação das personagens, o que de todo é uma boa proposta se não se esgotasse em toda a obra e virasse um artificio apenas de choque.

O filme mostra a história de um homem que resgata o passado quando sabe do sumiço de sua ex namorada que foi sua grande paixão até engravidar uma outra mulher que participava de relações a três com o casal.

Noé tenta se aproximar de algo que Kubrick fez com maestria no subestimado “De olhos bem fechados”, aonde um personagem se depara com uma jornada sexual e incestuosa sem volta. Noé mostra a mutação do adentrar nas possibilidades sexuais, mas mais do que isso, o longa é sobre escolhas.
Boas tentativas cercam o filme, principalmente o fato de demonstrar que o amor e o sexo estão extremamente ligados, e não em relações sexuais pragmáticas ,e sim de vísceras, aonde sentimento pulsa tanto como um membro enrijecido. Não há divergências, o amor liberta a selvageria nesse caso.

Se de um lado a proposta do filme é mostrar como as memorias afetam aquele personagem, o ritmo uniforme não deixa a obra avançar. Nem quando em certo momento o personagem toma ópio para tentar ficar mais próximo daquela mulher e lembranças, o filme cresce. Não há ousadia na edição e nem mesmo por parte do diretor que revela o sexo da mesma forma de uma pornografia barata com planos estáticos e abertos. Noé parece não saber utilizar a linguagem cinematográfica em seu prol de intensificar as relações. Talvez a maior fragmentação de planos e oscilação de ritmos pudessem compor um certa elegância a composição das cenas. Não porque o sexo por sí só seja feio e sujo, e sim para intensificar e incorporar a pretensiosa proposta de Noé. Com mesma pretensão que está estabelecida nos diálogos, ou até o narcisismo do diretor de não só colocar sua marca autoral, como a sí, já que o  filho do protagonista se chama Gaspar, e o amante de sua ex se chama Noé. Não é preciso muita expertise para comprovar tal necessidade de se mostrar que o diretor tem, já aparecendo nu em cena no longa “Irreversível”.

O filme se alonga por demais com momentos e cenas desnecessárias que não concluem nada e o fraquíssimo elenco não é capaz de dar força e peso para o drama, parecendo que tudo fica em cargo das cenas de sexo explicito em 3D que não são propriamente ditas tão absurdas para uma plateia convencional, mas que pretendem ferir com o filme já iniciando em uma cena que realça os órgãos sexuais de um meio torpe de notificar ao espectador ao que ele verá em seguida pelas próximas quase 2 horas e meia.

Mesmo assim não se pode dizer que “Love” seja um fiasco e apenas um pornô com alguma história. É um filme sobre algo muito mais se você conseguir enxergar através de todos sons e fúrias que o diretor resolve incessantemente te jogar . Um bom filme escondido pelas pretensões e narcisismos.


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