Iremar (Juliano Cazarré) é um peão e trabalha
com vaquejadas. Ele e seus companheiros de trabalho cuidam dos bois que são as
principais estrelas das competições espalhadas por todo o Nordeste brasileiro.
Ao mesmo tempo em que leva uma vida nômade, dormindo na traseira do caminhão
que transporta os animais, Iremar almeja ser um costureiro. Ele desenha seus
vestidos em papéis improvisados, monta seu manequim a partir de partes jogadas
fora e tem em Galega (Maeve Jinkings), a motorista do caminhão, sua grande
modelo.
O personagem de Cazarré é a representação de um
novo Brasil, principalmente de um novo Nordeste. Um país que, aos poucos, se dá
o direito de sonhar. Ele recolhe retalhos pelo chão e os cabelos dos rabos dos
bois para poder costurar. Além disso, reclama de sua máquina, que dá pau a toda
hora. Por outro lado, apesar das dificuldades, Iremar pode, às vezes, ir a um
shopping de beira de estrada comprar tecido para uma nova criação ou “se dar o
luxo” de um perfume novo. O mesmo vale para alguns outros personagens. Galega e
Júnior (Vinícius de Oliveira) não abrem mão de suas vaidades. A primeira compra
calcinhas fio dental com bordados. Já o segundo, inicia todas suas manhãs
alisando os longos cabelos com sua chapinha.
Mas se enganará quem pensar que Boi Neon é um
filme celebração. O longa, segundo de ficção do diretor e roteirista Gabriel
Mascaro (de “Ventos de Agosto” e do documentário “Domésticas”), faz questão de
sutilmente enfatizar que ainda vivemos em um país de ambiguidades. O mesmo peão
que sonha e traça pequenos objetivos tem o mesmo valor para seus patrões do que
a bosta dos animais que é pago para cuidar. E é aí que entra a pequena Cacá
(Alyne Santana), filha de Galega. Criada por sua mãe no meio dos homens e prestes
a entrar na puberdade, a menina representa o futuro incerto. Ela pode tanto
criar e alcançar seus objetivos (existentes em Iremar, mas incrivelmente
distantes) quanto se tornar mais uma peça da engrenagem que toca as vaquejadas.
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