Uma ação inocente, uma simples brincadeira
pode virar o mundo de cabeça para baixo. É isso o que acontece com as irmãs
protagonistas de “Cinco Graças”, ou como diz a pequena Lale (Günes Sensoy) na abertura do filme, “em um
momento tudo está tranquilo. Depois, a merda”.
É o último dia de aula numa cidadezinha turca
na costa do Mar Negro e as cinco (uma escadinha com diferenças de idade de mais
ou menos um ou dois anos umas para as outras), resolvem ir para casa andando,
pelo caminho da praia. Lá, elas são vistas por uma vizinha enquanto brincam
dentro da água de briga de galo com alguns colegas meninos. A fofoqueira conta
a avó (Nihal G. Koldas) e ao tio (Ayberk Pekcan) das cinco órfãs que elas
estavam “usando os pescoços dos rapazes para se masturbarem”. A partir daí, a
casa onde vivem, que sempre estava de portas e janelas abertas, vai se fechando
e, mais uma vez como diz Lale, é transformada em uma “fábrica de esposas”.
A grande força do filme (estreia da diretora e
roteirista Deniz Gamze Ergüven), está na combinação entre a atuação de Günes
Sensoy e suas quatro irmãs, Nur (Doga Zeyneo Doguslu), Ece (Elit Iscan), Selma
(Tugba Sunguroglu) e Sonay (Ilayda Akdogan), e a forma como elas são fotografadas.
A câmera sempre na mão e os longos takes das cinco juntas, ora esparramadas
pelo chão brincando umas com as outras, ora abraçadas em cima da cama, ajuda a
dar uma naturalidade incrível à relação das cinco. Lado a lado com o modo como
foram filmadas está o que elas entregam em tela. Parece que estamos assistindo
a cinco irmãs de verdade, com uma química perfeita.
Por fim, Ergüven usa o cenário da casa para
discorrer sobre os inúmeros problemas que as mulheres têm pela frente, dia após
dia. Machismo e patriarcalismo, violência sexual e doméstica etc. Enfim, “Cinco
Graças” é uma metáfora para todo o cerceamento de liberdade que as mulheres,
ainda hoje, enfrentam, seja na Turquia, nos países do
Oriente Médio ou em qualquer outro lugar do planeta.
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